Falhas em duas etapas de verificação originaram erros no Enem

Exigência do edital do Enem é contrariada por erro, que também conta com fiscalização do Inep

Empresa responsável pela impressão das provas do Enem 2019, a gráfica Valid teve falhas em duas etapas que tinham o dever de identificar a dissociação entre candidatos e suas respectivas cor de exames. O erro vai contra a exigência do edital que rege a contratação da companhia.

Enem – entenda os erros

Em contrapartida, a gráfica se justificou em forma de ofício, que foi enviado ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Em seguida, o documento foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF).

De acordo com o atual governo, 5.974 que realizaram a prova receberam notas erradas do Enem 2019. No entanto, o “equívoco” só foi verificado na sexta-feira passada (17), após a divulgação oficial dos resultados e de uma série de reclamações de estudantes por meio das mídias sociais.

No início, de acordo com afirmação de Alexandre Lopes, presidente do Inep, na segunda-feira (20): “erro aconteceu na fase de impressão, que gerou informação equivocada”.

Houve problemas nos códigos de barra de identificação do gabarito, durante a impressão, que diz respeito à relação do candidato e a cor da prova realizada pelo mesmo.

Também existe um protocolo operacional para que inconsistências como essas sejam avaliadas e corrigidas antes do envio dos dados para a correção. Porém, esse sistema falhou em duas etapas: nos processos de verificação da associação entre o aluno e a cor do exame. Mesmo que o sistema constatava que tinha um desvio, ainda assim não foi gerado um arquivo digital para enviar os casos para uma nova análise. Esta nova fase de análise é chamada de células de reprocesso.

No entanto, houve um segundo problemas nas tais células de reprocesso, em virtude de uma instabilidade em um sensor específico de leitura dos cadernos de prova, que deixou passar os erros. A confusão só foi apurada pela gráfica após ter sido acionada pelo Inep, segundo consta no documento da Valid:

“Nesta fase do processo, e especificamente no segundo dia de aplicação, após sermos acionados pelo Inep, foi identificada uma instabilidade em um sensor específico de disparo de leituras dos cadernos de prova.”

Cores da prova

Na prática, essa dissociação fez com que participantes tenham realizado a prova amarela, por exemplo, mas tenham tido o gabarito corrigido como a prova branca. Vale ressaltar que a ordem das questões altera conforme a cor do exame.

No edital, é mencionado que na contratação da gráfica, no caso a Valid, é exigido que a empresa possua um equipamento para identificar falha ou duplicidade.

A gráfica necessita ter em suas instalações um “sistema de inspeção de produção de produtos de segurança, através de tecnologia digital, que realize a verificação dos impressos com aplicação de dados variáveis, evitando falta ou duplicidades”.

Além disso, a empresa é obrigada a se responsabilizar “pelos vícios e danos decorrentes da execução do objeto”.

Inep

Em contrapartida, o Inep deve “acompanhar e fiscalizar a execução dos serviços, por meio dos servidores designados como representantes da administração, exigindo seu fiel e total cumprimento”. A explicação também consta do trecho do termo de referência.

Esta foi a primeira vez que a Valid imprimiu as provas do Enem e tal empresa não possuía experiência em serviços dessa proporção, em que 3,9 milhões de pessoas participaram do exame. Em 2019, a gráfica que imprimia as provas desde 2009, a RR Donnelley, declarou falência em março de 2019.

Em vez de realizar um novo certame, o governo Bolsonaro preferiu contratar a segunda colocada desta última licitação. A Valid foi contratada por R$ 151,7 milhões. Trabalhadores do Inep relataram no decorrer do ano passado riscos de problemas com a gráfica, e todos eles sempre foram minimizados pelo governo.

A Valid não se pronunciou até o momento. O presidente do Inep garante que a nota de todos os participantes foram recalculadas na intenção de procurar por inconsistência.

Para afastar a probabilidade de troca de gabaritos, técnicos do órgão também calcularam, de acordo com ele, as notas com todos os gabaritos possíveis.

Com a conclusão desse processo, o Inep chegou ao número de participantes prejudicados, que tiveram suas notas modificadas.

O instituto recebeu 172 mil reclamações da nota e o governo já foi acionado pela Justiça, para responder a uma série de questionamentos.

Fonte: Folha de S. Paulo

*Foto: Divulgação / Inep