Projeto Tietê segue atrasado e entrega é adiada mais uma vez

Projeto Tietê continua atrasado e prevê 85% de esgoto tratado até 2025; plano de 2013 era entregar as obras até o ano passado, mas crise hídrica adiou os planos, segundo a Sabesp

No mês passado foi divulgado que houve um aumento da mancha de poluição no rio Tietê, em São Paulo. Com isso, a Sabesp anunciou quase que imediatamente novas metas em relação ao Projeto Tietê, que segue bastante atrasado, para que o principal rio da capital paulista seja despoluído.

Na Grande São Paulo, as novas metas pretendem ter 92% do esgoto coletado e que 85% seja tratado até 2025. Atualmente, 87% é coletado e 68% tratado.

Projeto Tietê – início

O Projeto Tietê foi começado em 1992 e já foram investidos US$ 3 bilhões em recursos. O plano original prometia que o rio seria despoluído até 2005. Ao longo dos últimos anos este prazo foi adiado várias vezes.

Antes de vir à tona a crise hídrica que assolou os reservatórios de São Paulo, em 2013, a expectativa era de entregar a terceira etapa do projeto até 2016, de um total de quatro etapas. No entanto, hoje, a meta é entregá-la até 2021. O motivo do atraso foi em decorrência dos investimentos em obras para captação e distribuição de água no decorrer da crise, admitiu a Sabesp.

Nesta terceira fase, 72% dos trabalhos foram concluídos, além da realização de obras de expansão da estação de tratamento de esgoto de Barueri, que é a maior do país.

Já a quarta fase está em processo de execução e tem previsão de entrega até 2025 (em 2013, a entrega era até 2018). Nesta etapa, há o projeto de um supertúnel sob a marginal Tietê, que deverá receber esgoto de grande parte do centro da cidade.

Ainda nesta mesma fase existe a meta de coletar todo o esgoto entre o município de Suzano e a barragem da Penha, na capital paulista, praticamente. A poluição do rio nesses locais prejudica a qualidade da água em toda a região metropolitana, afirma a ONG SOS Mata Atlântica. Portanto, a Sabesp corre para assumir os contratos com cidades que possuem índices muito baixos de saneamento.

Sistema de esgoto municipalizado

Guarulhos é a segunda maior cidade paulista e se enquadra nesta questão. Há anos, a região conta com um sistema de esgoto municipalizado e não consegue progredir no saneamento, além de ter grande parte de seu esgoto lançado no Tietê. Prova disso é que até hoje não se sabe ao certo o real volume de esgoto tratado em relação ao que é gerado pelo município (estima-se que seja em torno de 10%). Sobre isso, Stela Goldenstein, coordenadora do 2030 Water Resources Group, vinculado ao Banco Mundial, afirmou ao à Folha:

“Não há problema em uma cidade ter o serviço de esgoto municipalizado. O problema é quando essa cidade não consegue dar conta do problema”.

Os técnicos da Sabesp se preocupam com a atual condição da infraestrutura de saneamento em Guarulhos. Eles não descartam a possibilidade de ser realizada uma auditoria técnica para identificar em que estágio se encontra as tubulações e outras instalações, antes de iniciar qualquer avanço no local. A Sabesp também está de olho nos contratos de saneamento de Mogi das Cruzes.

Bacia do rio Pinheiros

A quarta etapa do Projeto Tietê também está a universalização da bacia do rio Pinheiros. O objetivo deste processo é investir R$ 1,5 bilhão em contratos, cada um deles em uma área diferente da bacia do rio, onde residem aproximadamente 3,3 milhões de pessoas.

As companhias que trabalharem nessas regiões terão que assumir planos de melhora da qualidade dos córregos e rios de onde atuam, baseados em um modelo de remuneração por performance. No entanto, terão de lidar com a dificuldade de levar canos de esgoto para áreas de ocupação irregular, onde não existe espaço físico para se trabalhar.

No mês passado, a Sabesp vistoriou uma obra no limite de São Paulo com Taboão da Serra. Operários construíram ali um túnel de 1,20 metro de diâmetro e que deve receber o esgoto daquela região. Hoje, ele é descartado no córrego Pirajuçara, que é o afluente mais poluído do Pinheiros.

No entanto, o recomendável é que fossem construídos dois túneis para receber esgoto, cada um ao longo das margens do córrego. Porém, neste trecho do Pirajuçara é espremido por casas construídas em áreas irregulares. Portanto, a solução escolhida foi abrir um único túnel que faz uma espécie de zigue-zague sob o córrego.

Contudo, há locais que o acesso às obras é ainda mais difícil. A Sabesp estima que 3 milhões de pessoas em São Paulo residem em áreas irregulares. Na visão de Goldenstein, uma das possíveis soluções seria urbanizar as favelas. Com isso, seriam abertos espaços para estruturas de saneamento.

Fonte: Folha de S. Paulo

*Foto: Reprodução / TV Globo