A associação integra a modalidade de ‘cockpit’ para cadeirantes à fisioterapia aquática
AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) promove mais inovação e avança no setor de reabilitação aquática. Ao ouvir queixas de sua paciente mais antiga, Dona Marisa, de 60 anos, a instituição resolveu correr atrás de uma solução. Ela já não conseguia mais ficar em pé nos últimos tempos, além de ter muitas dores.
Marisa passou por uma avaliação e agora está sob os cuidados do fisioterapeuta e chefe do setor de fisioterapia aquática, Douglas Martins Braga. Inclusive, o local das atividades foi totalmente reformado há dois anos. Hoje, a piscina da unidade possui até uma máquina que simula ondas.
AACD avança no setor de reabilitação aquática
Para fazer com que Dona Marisa conseguisse adentrar a piscina, coisa que nunca havia feito, muito menos no mar, a equipe resolveu a questão. Agora, a paciente pode praticar a atividade aquática com o uso de uma cadeira de rodas, que foi desenvolvida nas oficinas da AACD.
Em entrevista à folha, Braga explicou:
“Certos músculos só conseguem ser ativados na água, onde a força da gravidade é quase zero e faz a pessoa flutuar”.
Nestes 14 anos em que está na instituição o fisioterapeuta testemunhou alguns ‘milagres’. E Dona Marisa tem mostrado avanços nos últimos seis meses, decorrentes de uma cirurgia reparadora na perna aliada às atividades na água. Hoje, ela já voltou a caminhar com a ajuda de um andador e não sente mais as dores de antes.
Fabricação das cadeiras de rodas
A produção das cadeiras de rodas feitas sob medida é realizada na unidade da Vila Clementino, zona Sul da cidade de São Paulo. Em médias, são fabricadas por mês entre 80 e 100 cadeiras.
Uma delas melhorou a qualidade de vida de um jovem de 15 anos com distrofia muscular. Ele passou por avaliação da fisioterapeuta Mika Yamada Imaizumi, que integra o grupo de 60 funcionários da oficina ortopédica central. Mesmo lugar onde são produzidas as cadeiras de rodas.
A fabricação só é feita graças aos componentes de um simulador digitalizado, além do cuidado que os artesãos possuem para propiciar mais conforto aos pacientes.
Cockpit
O processo para avaliar a medida de cada cadeira junto ao corpo foi mais complexo no caso do adolescente. Nesta situação, foram utilizadas as mesmas técnicas de ‘cockpit’ que vemos nos carros da Fórmula-1.
Segundo Yamada:
“Depois de fazer dez provas, sem resultado, eu estava quase desistindo, o menino começou a chorar, já não sabia mais o que fazer. Na 11ª tentativa, deu certo, e ele saiu feliz da vida, pilotando sua cadeira motorizada, com o joystick ajustado junto à sua barriga”.
Histórias e comemoração dos 70 anos da Associação
São estas histórias de superação que fazem a alegria dos quase 1.950 funcionários da AACD, além dos 1.214 voluntários. Juntos, eles realizaram em 2018, 800.000 atendimentos e entregaram 55.895 produtos ortopédicos.
No começo dos anos 1950, a associação só atendia crianças, após um surto de poliomielite que atingiu o país. Porém, hoje, a AACD atende pacientes de todas as idades e a maioria deles são encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Em agosto de 2020, a instituição completa 70 anos. Ela foi fundada pelo médico ortopedista Renato da Costa Bonfim. Segundo ele:
“Não se trata de fazer caridade ou filantropia, é preciso encarar a causa da reabilitação como problema médico-social prioritário”.
Como a AACD não possui fins lucrativos, ela consegue sobreviver e proporcionar tratamento aos pacientes por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas.
Problemas atuais
Hoje, a instituição enfrenta mais casos de paralisia cerebral, decorrentes de problemas no parto. Ao todo são 880 pacientes nesta situação. Portanto, isso exige mais investimentos em tecnologia e inovação apara auxiliar na melhora dessas pessoas.
Para se ter uma ideia, o coordenador geral da oficina ortopédica, Ciro Pauli Pavarim, de 53 anos, atua na AACD desde 1988. Quando foi contratado, ele era formado em ajustagem mecânica pelo Senai. Hoje, ele é protesista ortesista, função que ainda não possui regularização.
Sobre isso, ele afirma que a vontade em ajudar as pessoas aliada à sua formação foram determinantes para entrar na AACD. Pavarim é o responsável por todos os produtos ortopédicos desenvolvidos pelos engenheiros da instituição. Nas oficinas são fabricados coletes, capacetes, cadeiras de rodas adaptadas, órteses e próteses, entre outros.
Fonte: Folha de S. Paulo
Foto: Divulgação